Livro: Bíblia da Carnificina: A biografia oficial do Cannibal Corpse
Autor: Joel McIver
Editora: Estética Torta – 2020
Páginas: 272
“Bíblia da Carnificina” poderia muito bem ter outros nomes, como “Mestres da Podridão” e “Podreira Ilimitada”, só para dar alguns exemplos de como a música e a temática do Cannibal Corpse atraem o que há de mais sanguinário na música extrema. Suas letras abordam temas escabrosos e que muitas vezes podem ser confundidos com o roteiro de filmes de terror série B, mas é aí que está o X da questão. É com essa temática, aliada à uma sonoridade que mescla peso, agressividade e técnica, que faz o Cannibal Corpse ser o que é, uma lenda do Death Metal mundial.
Neste livro escrito por Joel McIver, com tradução de Charlie Curcio, conseguimos entender um pouco mais do que se passa na cabeça desses músicos, e quanto mais os conhecemos, mais sabemos que eles são caras normais que curtem um bom Heavy Metal com letras inspiradas em filmes e no dia a dia da humanidade, onde muitas vezes temas tão macabros podem ser lidos na notícia de um jornal. A exceção fica por conta do guitarrista Pat O’Brien, que em 2018 se meteu numa confusão que até agora ninguém entendeu muito bem. Sua demissão oficial da banda veio em 2020, dando lugar ao produtor Erik Rutan, ex-Morbid Angel, ex-Ripping Corpse e líder do Hate Eternal.
O britânico Joel McIver, jornalista e escritor tarimbado, trabalhou em várias biografias em cerca de 20 anos de trajetória, destacando livros sobre o Slayer, Black Sabbath, Motörhead, Max Cavalera e David Ellefson. Neste “Bíblia da Carnificina”, seu trabalho se concentrou mais em colher os depoimentos dos músicos e juntá-los de forma cronológica e de forma separada, com cada integrante recebendo um capítulo exclusivo. O que mais me chamou a atenção foi o espaço dado para os primeiros dias do Cannibal Corpse, onde o quebra cabeça de sua fundação foi desvendado de forma bem objetiva, sobretudo nos relatos do baixista Alex Webster. Creio que grande parcela dos fãs de Heavy Metal em geral sejam pessoas curiosas, que gostam de saber tudo sobre suas bandas preferidas. No caso do Cannibal Corpse, pelo menos para mim, sempre houve um interesse em suas raízes mais profundas, na história de bandas como Beyond Death e Tirant Sin, que formam a espinha dorsal dessa trajetória de mais de 30 anos.
Recheado de fotos exclusivas, o livro também traz letras traduzidas, com pequenos comentários dos integrantes. Do ponto de vista estético, é interessante saber o que cada músico tem a dizer sobre as letras, mas o espaço poderia ter sido utilizado com mais depoimentos, sobretudo de outros músicos importantes que já passaram pela banda, como Bob Rusay, Chris Barnes e Jack Owen. Este talvez seja o único aspecto que tenha deixado a desejar, pois seria interessante ler o que eles teriam a dizer.
Além dos músicos, o autor também conversou com uma pessoa muito importante para a história da banda: Brian Slagel, da Metal Blade Records. A gravadora, responsável por todos os lançamentos do Cannibal Corpse, foi a peça fundamental para seu sucesso e crescimento. Outro nome importante que consta no livro é do baterista Gene Hoglan, responsável por um interessante depoimento, utilizado como prefácio. E como já é tradição da Estética Torta, “Bíblia da Carnificina” tem mais um belo acabamento de luxo, com capa dura e excelente impressão, tornando a leitura fácil e agradável. Todas as páginas são coloridas, o que reforça ainda mais o compromisso da editora em entregar material de qualidade.
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Em destaque:
Nossa imagem de destaque é uma das mais emblemáticas da década de 1990: o guitarrista Rob Barrett ao lado do ator Jim Carey, que chamou a banda para fazer uma pontinha no filme “Ace Ventura”, lançado em 1994. A cena todo mundo conhece: a banda toca “Hammer Smashed Face” enquanto Ace, em fuga, sobe no palco, dança e finge cantar, fazendo caretas numa performance divertidíssima. Com caras e bocas, Jim Carey ajudou o Cannibal Corpse a ficar ainda mais conhecido. No livro é possível saber mais detalhes sobre esta participação inusitada no mundo cinema.
Música/álbum destacado:
Quando criança, entrando na adolescência, cada nova banda descoberta era motivo de êxtase, e quando descobri o Cannibal Corpse, foi uma experiência totalmente insana. O primeiro disco que ouvi foi “Tomb of the Mutilated”, através de um amigo, que gravou o disco em uma fita K7. Aquela sonoridade abafada (e que ficava ainda mais abafada em fita K7) e toda aquela loucura sonora eram de outro mundo. Os vocais guturais insuperáveis de Chris Barnes guiavam a pancadaria, com faixas ultrarrápidas e outras mais cadenciadas. Para quem estava ouvindo a banda pela primeira vez, era um choque. Como não amar “Hammer Smashed Face”, “I Cum Blood” ou “The Cryptic Stench”? Não há nenhuma faixa mediana. Num top 10 de álbuns de Death Metal, “Tomb of the Mutilated” com certeza estará no início da minha lista.
Maicon Leite atua como Assessor de Imprensa com a Wargods Press e é co-autor do livro Tá no Sangue!, e claro, editor do Arena Heavy!
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