A arte ajuda a expressar dores, angústias e perturbações. Foi isso que fez a banda porto-alegrense Diokane com “Cheiro de Enchente”, single baseado na inundação que assolou o Rio Grande do Sul em maio de 2024. Pegando como mote o odor único e marcante, derivado de detritos e sedimentos variados – como animais mortos e esgoto –, o quarteto verteu, em forma de música, impressões sobre a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul.
Trata-se de um relato do que se viu e sentiu durante a enxurrada de horror, com base, principalmente, no que foi testemunhado ou mostrado na imprensa em Porto Alegre e arredores. O lançamento inclui um documentário/clipe para dar a dimensão da catástrofe que veio do céu.
Assista:
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A composição foi gravada no Black Stork estúdio, com produção de Thiago Caurio (baterista da Atomic Elephant). Já a mixagem e a masterização ficaram sob responsabilidade de Renato Osório, guitarrista da Atomic Elephant e produtor que já trabalhou com Híbria, Distraught, Leviaethan entre outros. O vocalista da banda Pull The Trigger, Tiago “Taz” Freitas Severo, faz participação na faixa. Ele é morador da Vila Farrapos, zona norte de Porto Alegre, e perdeu praticamente tudo que tinha na residência em que morava com os pais e a filha.
A produção audiovisual elaborada para ilustrar “Cheiro de Enchente” é dirigida pelo baixista Billy Valdez, com fotografia, operação de câmera e assistência de direção de Leandro Monks e apoio do Coletivo Catarse. A obra apresenta depoimentos de vítimas da enxurrada, bem como cenas do cataclismo misturadas com takes da banda tocando.
As imagens do grupo ao vivo foram captadas no Áudio Porco, estúdio no bairro Cidade Baixa, região central de Porto Alegre. No local, o refluxo do esgoto e a água que o sistema de bombeamento não deu conta de escoar, fizeram com que o líquido empesteado chegasse a aproximadamente 1m20cm dentro do estabelecimento.
O jornalista Fábio Schaffner, de GZH, que atuou na cobertura das inundações em pontos diferentes do Rio Grande do Sul, percebe o lançamento da Diokane da seguinte forma:
“Cheiro de Enchente”, o mais novo single da Diokane, tem a urgência e a revolta de quem testemunhou um cataclismo climático e sobreviveu para cantar a desgraça. Sete anos após o lançamento do EP de estreia, “This Is Hell We Shall Believe”, a banda de hardcore/metal gaúcha faz do aluvião que atingiu o Estado em 2024 tema de sua canção de retorno. Mas esse, definitivamente, não é o inferno em que a Diokane acredita. Pelo contrário. Ao narrar o sofrimento de quem perdeu tudo o que tinha e o descaso de quem não fez nada para evitar a tragédia, Homero Pivotto Jr. exorciza ao microfone a mistura pútrida de chuva, esgoto e carniça que invadiu casas e ruas, enquanto Billy Valdez (baixo), Rafael Giovanoli (guitarra) e Gabriel Kverna Motta (bateria) nos conduzem pelo ouvido ao purgatório da lama e do caos de uma cidade submersa. O começo, hipnótico, é como o redemoinho que traga o náufrago. Os riffs crescem, mas sem ceder à velocidade. A melodia é lenta e pesada, com a força de uma correnteza que se move devagar e arrasta tudo que há pela frente. Com 3min20s, “Cheiro da Enchente” é pungente e necessária. Muitos cantaram a enchente sob a ótica poliana do recomeço, o sol sorrindo na manhã seguinte. Faltava alguém para dar punch ao desamparo, para nos lembrar que escurece de novo no fim da tarde.
Ficha técnica:
Billy Valdez – baixo
Gabriel “Kverna” Motta – bateria
Homero Pivotto Jr. – voz
Rafael Giovanoli – guitarra
‘Cheiro de Enchente’ foi gravada no Black Stork Studio
Produção: Thiago Caurio
Mixagem e Masterização: Renato Osório
Participação especial na voz: Tiago Taz Freitas Severo (Pull The Trigger)
Arte da capa: Rafael Giovanoli
Fotos da banda: Leandro Monks
Reportagem/Release: Homero Pivotto Jr.
Direção e edição do documentário/clipe: Billy Valdez
Maicon Leite atua como Assessor de Imprensa com a Wargods Press e é co-autor do livro Tá no Sangue!, e claro, editor do Arena Heavy!
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