Lançado originalmente em 2004, “Temple of Shadows” recolocou o Angra no topo como uma das maiores potências do metal progressivo mundial. Este é o quinto álbum de estúdio da banda e representa um momento de plena maturidade criativa, técnica e de liberdade artística. Além disso, traz uma formação que continua sendo reverenciada pelos fãs: Edu Falaschi (vocais), Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Aquiles Priester (bateria). Juntos, eles criaram uma obra que combina heavy metal, música erudita e ritmos brasileiros em um conceito ambicioso e inovador.

O disco é uma jornada conceitual que narra a trajetória de Shadow Hunter (Cavaleiro das Sombras), um cruzado fictício do século XI que enfrenta uma transformação filosófica e espiritual ao questionar os dogmas da Igreja e as contradições da fé. Essa história se desenrola em 13 faixas, incluindo uma introdução e um encerramento, que, além de brilhantemente compostas, apresentam letras profundas e reflexivas, baseadas no conceito desenvolvido por Rafael e co-escritas com Edu.

A formação do ANGRA em 2004 era um exemplo de harmonia musical. Kiko e Rafael, com estilos distintos, encontraram equilíbrio entre técnica virtuosa e composições complexas, unindo riffs marcantes e solos complexos. O baixo criativo e dinâmico de Felipe se complementa perfeitamente com a precisão impressionante de Aquiles na bateria, consolidando uma base rítmica poderosa. Edu, por sua vez, trouxe uma performance vocal emotiva e versátil, superando os desafios causados por problemas nas cordas vocais, que exigiram adaptações durante as gravações, mas não comprometeram sua entrega.

O álbum começa com a introdução “Deus Le Volt!”, que prepara o terreno para a explosão de “Spread Your Fire”, seguida por “Angels and Demons”, ambas entregando o power metal característico do Angra, com velocidade e arranjos intrincados. Logo depois, “Waiting Silence” apresenta um tom mais moderno, enquanto “Wishing Well”, composição trazida por Edu, se destaca como um dos momentos mais melódicos e acessíveis do disco.

“Temple of Hate” é uma das músicas mais rápidas e técnicas já criadas pela banda, destacando a participação especial do alemão Kai Hansen (GAMMA RAY e HELLOWEEN), reforçando a influência do heavy metal melódico europeu. Em seguida, “The Shadow Hunter” se sobressai como um dos pontos altos do álbum, mesclando elementos progressivos e de flamenco, com uma introdução de violão impecável de Rafael e uma percussão belíssima.

“No Pain for the Dead” mantém o tom épico, com violões e melodias dramáticas, enriquecidas pela participação de Sabine Edelsbacher, vocalista da banda austríaca EDENBRIDGE. “Winds of Destination”, por sua vez, é uma faixa pesada e veloz que traz a voz marcante de Hansi Kürsch (BLIND GUARDIAN), com um interlúdio de piano que se torna um dos momentos mais memoráveis do disco.

“Sprouts of Time” e “Morning Star” evidenciam as influências brasileiras no trabalho da banda, misturando ritmos étnicos ao heavy metal. Os arranjos de baixo de Felipe são particularmente notáveis nessas músicas, demonstrando bom gosto e sofisticação.

A obra culmina com “Late Redemption”, que conta com a participação do icônico cantor brasileiro Milton Nascimento, reforçando o caráter experimental do álbum ao unir letras em português e inglês. Por fim, “Gate XIII” encerra o disco de maneira magistral, revisitando as principais melodias do álbum em uma peça orquestral emocionante.

Na época de seu lançamento, “Temple of Shadows” foi amplamente aclamado pela crítica e pelo público, mesmo que muitos tenham demorado a “digerir” a segunda parte do disco. Mesmo assim, ele nunca deixou de ser reconhecido como o álbum mais ambicioso do ANGRA e um dos melhores lançamentos do gênero naquele ano. O conceito elaborado e a qualidade das composições tornaram essa obra atemporal, frequentemente citada como referência por músicos e fãs ao redor do mundo.

Apesar de ser um marco na carreira da banda, os bastidores foram marcados por tensões internas e desentendimentos com o empresário, problemas que só se tornaram públicos anos mais tarde. Mesmo assim, essa formação seguiu por um período, deixando um legado inquestionável.

O trabalho foi produzido, mixado e masterizado pelo americano, mas que mora na Alemanha faz muito tempo, Dennis Ward, que além de ter produzido também os álbuns do ANGRA, “Rebirth” (2001), “Aurora Consurgens” (2006) e o mais recente “Cycles Of Pain” (2023),  fez parte das bandas Pink Cream 69 (com Andi Deris do HELLOWEEN) e Unisonic.(com Kai Hansen e Michael Kiske do HELLOWEEN).

Agora, com o relançamento comemorativo de 20 anos, a banda incluiu versões de pré-produção de “Spread Your Fire” e “Late Redemption”. Embora essas faixas já fossem conhecidas por alguns fãs, por terem circulado na internet, sua inclusão agrega valor ao lançamento, especialmente para colecionadores.

Lançado pela Voice Music no Brasil, o álbum chega em uma edição luxuosa, com slipcase, pôster e OBI, tornando-o ainda mais especial. Se você ainda não explorou essa obra-prima, não perca a oportunidade de vivenciar um dos capítulos mais brilhantes da música pesada enquanto acompanha as letras e ilustrações no livreto.

Faixas:
1. Deus Le Volt!
2. Spread Your Fire
3. Angels and Demons
4. Waiting Silence
5. Wishing Well
6. The Temple of Hate (c/ Kai Hansen)
7. The Shadow Hunter
8. No Pain for the Dead (c/ Sabine Edelsbacher)
9. Winds of Destination (c/ Hansi Kürsch)
10. Sprouts of Time
11. Morning Star
12. Late Redemption (c/ Milton Nascimento)
13. Gate XIII

Faixas bônus:
14. Spread Your Fire (pré-produção)
15. Late Redemption (pré-produção)