
Produção: Ablaze Productions
Texto: Marcos Mendonça
Fotos: Henrique Haag
No domingo, 2 de novembro de 2025, o Bar Opinião, em Porto Alegre, assistiu de perto ao retorno de Roland Grapow e do Masterplan em terras gaúchas, quase 22 anos após o seu último show na capital (quando abriram para o Gamma Ray em 2003). E quem foi não vai me deixar mentir: ganhamos um presente cheio de boas energias e nostalgia. Mesmo sem ter um trabalho de estúdio recente (o último foi um álbum de covers do Helloween de composições de Roland Grapow, o “PumpKings” de 2017), a decisão de sair em turnê me pareceu acertada: quem não é visto não é lembrado.
A abertura da noite ficou a cargo das bandas gaúchas Tierramystica e Phornax. A primeira divulgava o lançamento do novo álbum “Trinity”. A banda, formada por Guy Antonioli (voz), Alexandre Tellini (guitarra), Ricardo “Chileno” Durán (voz, charango e violão), Douglas Behenck Dimer (baixo) e William Schuck (bateria, também do Hibria), focou nas músicas novas, que são mais diretas do que os trabalhos anteriores, mas sem perder a essência folk e os elementos andinos. Destaque para as faixas “Cosmovision” e “Chaski Way”.

Após alguns minutos, o Phornax, formado por Cristiano Poschi (voz), Deivid Moraes e Eduardo Martinez (guitarras), Sfinge Lima (baixo) e Maurício “Bomba” Dariva (bateria), vinha divulgando os singles que farão parte do novo álbum, com previsão de lançamento para o início do ano que vem. Destaque para as faixas “Final Beat” (com participação da dançarina Aline Mesquita), e as novas “A Matter of Time” e “Between Fear and Hope”.

Quando falamos do Masterplan, o álbum de estreia de 2003 é a primeira referência que vem à memória da maioria de nós, bem como a sua formação original com os vocais únicos de Jorn Lande e a bateria de Uli Kusch (colega da época de Helloween). A ausência destes dois músicos e o longo tempo sem divulgação de novidades com certeza pesaram na decisão de estar presente em um show ao vivo, o que se percebeu na prática: um Opinião muito aquém da sua capacidade máxima. De qualquer forma, a qualidade dos dois primeiros álbuns que forjaram fãs fiéis, o nome de Grapow – um dos responsáveis por uma fase de ouro do Helloween com álbuns magistrais como “Master of The Rings” (1994), “The Time of The Oath” (1996) e “The Dark Ride” (2001) – e a presença de Jari Kainulainen na formação atual, baixista dos álbuns clássicos do Stratovarius nas décadas de 1990 e 2000, e também da banda sueca Evergrey entre 2007 e 2010, fizeram movimentar a mão de muitos na hora de comprar o ingresso.
Em relação à formação atual, além do nosso querido “Rolando” (como se reconheceu ao ser chamado assim carinhosamente por um fã no meio do show), e de Jari, completam a banda o tecladista alemão Axel Mackenrott (único da formação original), o vocalista sueco Rick Altzi (também vocalista da banda alemã At Vance) e o baterista brasileiro Marcus Dotta (da brasileira The Heathen Scythe, da alemã Metalium, entre outros), que na turnê latino-americana estava substituindo o baterista alemão Kevin Kott (também do At Vance). Escalação feita, pontualmente às 21h30, a banda abriu com “Rise Again”, single de 2024 que marcou o retorno da banda nesta formação atual. Um power metal com todas as características que fizeram de Grapow uma referência no estilo, mas que teve pouca divulgação no meio, o que se percebeu pela pouca resposta do público ao som.
É inegável o marco que o álbum de estreia “Masterplan” (2003) causou na comunidade do heavy metal. O Masterplan foi considerado na época uma superbanda, suas composições eram pujantes e a “peteca” não caiu no segundo álbum “Aeronautics” (2005), projetando a banda alemã rapidamente como uma referência do estilo na virada do século. Obviamente eles deixaram muito claro este fato, pois quase metade das músicas do setlist vieram do primeiro disco. “Enlighten Me” e “Spirit Never Die” chegaram junto com a empolgação do público presente, que cantou junto e vibrou muito nos refrãos!

Após um “respiro” com a execução de “Lost And Gone” do álbum “MK II” (2007), a banda emplacou dois hits do segundo álbum que foram muito bem recebidos: “Crimson Rider” e “Back for My Life”, esta última que contou com um cenário de luzes de lanterna de celular da galera, solicitado pelo vocalista Rick Altzi.
Um ponto importante a ser destacado é que, desde a entrada da banda no palco até o fim do show, havia um clima de ótimo humor entre os integrantes, que trocavam olhares, brincadeiras e risadas entre si. Entre as músicas, faziam boas pausas para conversar e interagir com o público enquanto acessavam suas bebidas favoritas que estavam em uma mesinha ao lado da saída do palco. Isso cativou muito quem estava assistindo, que ria junto das palhaçadas ditas pelos integrantes no microfone. Roland particularmente parecia muito animado, buscando estar grudado ao público em todas as oportunidades possíveis. Em algumas situações estava tão empolgado que não se conseguia entender muito bem o que ele estava querendo dizer, mas percebia-se que estava feliz. Ainda, as questões técnicas envolvendo o volume do baixo e do teclado durante a primeira metade do show tiraram o sorriso de Jari e Axel, que conduziram o andamento do show e interagiram com o público muito bem.
Os teclados começaram a ficar mais intensos quando o riff de “Kind Hearted Light” iniciou. O que foi muito curioso, pois este riff de introdução de teclado é muito parecido com a introdução de “Hunting High and Low” do Stratovarius, ex-banda do baixista Jari Kainulainen (ele não deve ter tido muita dificuldade em tirar esse som, não é mesmo?). Com os instrumentos melhor audíveis naquele momento, a galera foi junto!
Antes de iniciar o primeiro cover do Helloween do setlist, “The Time of The Oath”, Roland comentou, entre risos e caretas, sobre a origem da composição desta música e como ele tinha criado um riff progressivo “a lá” Dream Theater. Ele realmente estava de ótimo humor. Na sequência, a banda emplacou uma música do seu último álbum de inéditas, “Novum Intium” (2013), “Keep Your Dream Alive”.
Na onda de valorização do primeiro álbum, o show seguiu com “Crystal Night”. E que música maravilhosa, para mim resume a qualidade de composição da primeira fase da banda. Foi seguida por “Soulburn” e “Heroes”, que contou com a participação especial do vocalista do Tierramystica, Guy Antonioli, cantando muito bem as partes originalmente gravadas por Michael Kiske! Um dos pontos altos do show com toda a certeza!

A apresentação foi chegando ao final com “The Chance”, do álbum “Pink Bubbles Go Ape” (1991) do Helloween e a pedrada power metal “Crawling From Hell”, também do álbum de estreia. A melodia do solo final de guitarra serviu de coro para a banda apresentar os integrantes e chamar a atenção do público com solos de baixo, bateria, teclado e guitarra. No solo de baixo de Jari a galera até gritou para tocar Stratovarius, mas pôde ver mais que isso: um baixista seguro, técnico e bem-humorado. Ah, e como é bom ver músico brasileiro se dando bem nas bandas gringas! Marcus esteve muito bem, demonstrando concentração, precisão e respeito ao legado da banda, quebrando tudo no seu solo e arrancando elogios e aplausos da galera. Roland, no auge dos seus 66 (isso mesmo, sessenta e seis!) anos, está voando, mostrando habilidade e técnica, fazendo parecer fácil tocar na Gibson Les Paul que o colocou no hall da fama da história do estilo.
Um salve importante também para o vocalista Rick Altzi, que transitou por músicas de três outros cantores bem diferentes entre si no setlist (Jorn Lande, Michael Kiske e Andi Deris) e mostrou que é um cantor preciso, versátil e com estilo próprio: estava solto e afinado, mesmo nos pontos de maior dificuldade vocal, nem parecia que estava em turnê. A sua presença de palco, sua habilidade em interpretar a letra das músicas utilizando a linguagem corporal, o excelente humor e a forma com que conectou a banda e o público provaram a sua qualidade excepcional como frontman, dando uma aula de técnica e carisma. Ao fim do solo do tecladista Axel, tivemos um momento inusitado: ele puxou um cover de “Burn”, do álbum de mesmo nome de 1974 do Deep Purple, no qual eles tocaram apenas um trecho, mas o suficiente para ter feito o público gritar junto.
Por fim, o show se encerrou com o clássico “Grapowniano”, “The Dark Ride” do Helloween (álbum homônimo de 2000), que todos sabiam cantar juntos, em um encerramento de uma noite de diversão e nostalgia de uma época marcante do power metal mundial. A última música, inclusive, teve direito a “jabá” do vocalista, que vestiu uma camisa amarela turística do Brasil com o Cristo Redentor estampado (a gente queria o Laçador, mas a gente aqui no sul entende, Rick, gostamos da intenção de qualquer forma!).

Em uma das pausas utilizadas para interagir com o público, Roland anunciou que o Masterplan irá lançar um novo álbum no ano que vem, o que é uma notícia maravilhosa, pois abre-se uma prerrogativa de retorno breve aos palcos e, por que não, retornar mais cedo a Porto Alegre!
Ser fã de heavy metal é fazer um voto de resistência e resiliência. E foi exatamente o que vimos neste show: uma banda de músicos de altíssimo nível que, mesmo promovendo uma nostalgia de mais de 20 anos após uma sequência de formações e trabalhos de menor impacto, dá a sua cara a tapa para receber um abraço do público. Confesso que, como fã da banda e após ter ouvido os seus últimos trabalhos de estúdio, não estava com expectativas altas e fui surpreendido com um baita show. São momentos como esse, contra tudo e contra todos, que fazem a gente torcer para que um trabalho matador chegue em breve. Obrigado Roland Grapow e Masterplan pela entrega, pela nostalgia, pela qualidade e por movimentar a nossa cena local! Nos veremos em breve, certamente!
Tierramystica:
Awakening (Introdução)
Cosmovision
Eldritch War
Raindancer
Chaski Way
Vision of the Condor
Fly as One
Run to the Hills (Iron Maiden)
Phornax:
Introdução
Hell’s Paradise
Dare of Destruction
Final Beat
Silent War
A Matter of Time
Ghosts from the Past
Between Fear and Hope
Masterplan:
Rise Again
Enlighten Me
Spirit Never Die
Lost and Gone
Crimson Rider
Back For My Life
Kind Hearted Light
The Time of the Oath (Helloween)
Keep Your Dream Alive
Crystal Night
Soulburn
Heroes (Helloween)
The Chance (Helloween)
Crawling from Hell
The Dark Ride (Helloween)

Colecionador de discos, apaixonado por shows e colaborador do Arena Heavy!
Tags: MasterPlan • Phornax • Tierramystica
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