“Heliocentric”, do THE OCEAN, é uma jornada sonora entre ciência e controvérsia
Postado em 22/02/2025


Dificilmente se encontra uma banda como The Ocean. Unindo elementos do som pesado, música clássica e outras sonoridades experimentais, a banda alemã ousa e desafia os limites musicais sem soar pretensiosa ou oportunista. Desde que ouvi “Aeolian” (2005) pela primeira vez, acompanhei de perto sua evolução, mesmo com as constantes mudanças de formação ao longo de sua trajetória, iniciada no início dos anos 2000.

Excêntrico à sua própria maneira, o The Ocean é comandado pelo guitarrista Robin Staps, que concebeu uma identidade musical e conceitual única. As letras da banda frequentemente abordam temas filosóficos e científicos, como a crítica ao cristianismo em “Heliocentric” (2010) e a visão sobre o criacionismo em “Anthropocentric” (2010). Neste “Heliocentric”, as dez faixas transitam por caminhos pouco explorados pela maioria das bandas de metal, oferecendo uma experiência sonora envolvente e multifacetada.

O disco explora a relação entre a ciência e a religião, abordando temas como o heliocentrismo (modelo astronômico que coloca o Sol no centro do sistema solar) e o impacto das descobertas científicas na fé e na visão de mundo da humanidade. Além disso, critica as crenças religiosas dogmáticas e discute a evolução do pensamento humano sobre o universo. As letras fazem referência a figuras como Galileu Galilei, que enfrentou a resistência da Igreja ao defender o heliocentrismo, e até mesmo Friedrich Nietzsche, cujas ideias sobre a morte de Deus e o niilismo são refletidas nas composições.

É evidente que fãs mais ortodoxos do gênero podem torcer o nariz para “Heliocentric”, mas aqueles que derem uma chance ao álbum perceberão a riqueza de elementos e detalhes que se revelam aos poucos, até mesmo em faixas com influências pop. O disco aposta em uma abordagem mais atmosférica e melódica, com destaques como “The Origin of Species” e “The Origin of God”, que sintetizam a proposta musical e lírica da banda. O álbum também marcou a estreia do vocalista Loïc Rossetti, que trouxe um estilo vocal versátil, transitando entre vocais limpos e agressivos.

A grandiosidade do trabalho se reflete na sua instrumentação diversificada, incluindo trompetes, saxofones e vocais convidados, tornando impossível listar todos os envolvidos na gravação. “Heliocentric” foi bem recebido pela crítica, especialmente por sua abordagem conceitual e evolução musical. Alguns fãs mais antigos estranharam a redução do peso em relação a trabalhos anteriores, mas a mudança foi consolidada no álbum seguinte, que traz uma abordagem mais agressiva e complementar a “Heliocentric”. Recomendado especialmente para ouvintes de mente aberta, dispostos a explorar novas sonoridades e, quem sabe, descobrir um novo gosto musical.

 
Categoria/Category: Destaque · Resenha de Discos
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