– Artur, muito obrigado por atender a nossa equipe de redação da Arena Heavy. Tudo bem? Como estão as coisas aí na sua região?
Olá, tudo bem. Disponha, eu que agradeço essa oportunidade de conversar com vocês. Aqui vamos na resistência, com muito rock e criatividade para conseguir abrir espaços locais e regionais. Ao mesmo tempo, também seguimos nos meios digitais que permitem dar a volta ao mundo através da música e da tecnologia.
– Como tem sido a recepção de “Dreams and Falls” até aqui? Fãs e imprensa têm recebido ele bem?
A expectativa era grande, realmente. Apostamos alto. Uma banda de rock independente, originária do interior da Bahia, região Nordeste do Brasil, produzir um álbum todo em inglês… um atrevimento, né? Mas, pelos comentários ouvidos e recebidos do público até agora, o que saiu em resenhas e matérias publicadas (algumas em blogs internacionais), as músicas adicionadas em playlists nacionais e internacionais, a veiculação em programas de rádios e webradios do Brasil e do exterior, acho que o álbum tem sido muito bem recebido. Vale lembrar que o álbum foi lançado em março/2025 (seis meses atrás), temos uma capacidade limitada de investimento em estratégias de marketing. Até aqui estamos satisfeitos porque mantemos os pés no chão, apesar da forte convicção quanto à qualidade do que produzimos. Como ainda estamos trabalhando em outras coisas pós-lançamento para promover o álbum, como videoclipes e lyrics videos, outros sinais da receptividade do público e da imprensa deverão chegar.
– Vocês estão se apresentando para promover o material? Como tem sido esses shows?
Sim! Claro que sendo uma banda do segmento independente, fica difícil reunir condições para realizar uma grande turnê de lançamento. Seguimos um ritmo de realização de shows e participações em eventos com a mesma regularidade de antes do álbum, mas agora tem mais esse atrativo. Com um álbum recém-lançado, houve uma preparação especial para os shows de 2025, incorporando cada vez mais as músicas do Dreams and Falls no intuito de promovê-lo. Desde o início do ano, depois de lançarmos o single “Insecurity”, os shows passaram a ter esse componente de promoção do álbum, sempre com muita intensidade. Tem sido uma escalada ascendente porque a banda também vai se adaptando ao público que agora espera pelas músicas do novo álbum.
– Nos shows ao vivo, você já consegue identificar quais músicas tem mais apelo do público?
Caso consiga, a que você acha que se deve essa resposta positiva? Nos shows que temos feito, a reação do público tem sido bastante estimulante e positiva, e já se pode identificar que várias pessoas estão cientes do novo álbum e da sua proposta, chegando até a pedir músicas como “Lori”, “Days and Roses” e “Unreal Searches”, o que considero um bom sinal. Essas são versões de outras já lançadas em português do álbum anterior (Saudade da Razão, 2022) e single e estabelecem logo uma conexão com o público, provavelmente porque fica mais fácil pra galera que já escutou antes e está familiarizada com a música. Mas tem o caso recente de “Horses on the Streets” que saiu como single pós-álbum, totalmente inédita, sem versão anterior em português, e que tem causado uma boa resposta nos shows, o que é outro bom sinal. Em todos os casos, acho que o que prevalece mesmo é a identidade musical da banda e o laço que essa identidade constrói com o público que nos conhece, seja de muito tempo ou mais novo. E tem a ver não somente com os shows, mas também pela audição nas plataformas, a compreensão das letras e da proposta geral do trabalho da banda, independente até da língua em que as músicas sejam cantadas.
– Como a banda funciona na hora de compor? Vocês são mais metódicos ou preferem uma boa jam session em estúdio?
Via de regra, funciona sem fórmula, sem receita de bolo, completamente aleatório e livre. Acho até que isso preserva e revigora nossa verve criativa e produtiva. Então, com as mentes abertas, pode acontecer das formas mais variadas e inesperadas. Tem música que já sai pronta, de uma vez, faço no violão e levo para o ensaio da banda, já com a proposta do que cada instrumento vai fazer, como é o caso de “For You, Girl”. Tem outras que começam com uma linha de baixo criada por mim ou por André, como “Dias e Rosas/Days and Roses”, “Insecurity”, “Éramos Quatro/Four Chimes” e que são tocadas seguidas vezes nos ensaios até formar uma canção completa. Tem aquelas que são inspiradas por uma letra que praticamente exige uma melodia e logo depois uma harmonização. E, claro, tem algumas que surgem devido a jam sessions que brincamos antes do ensaio regular. A lista de tipos e casos é extensa. A parte mais metódica entra em algum momento, pode ser no início, no meio ou ao final, e novamente quando entramos em estúdio para gravar. Nessa fase, eu tento aplicar o modesto conhecimento que tenho sobre teoria musical para lapidar alguns pontos. Outro ponto importante que acontece desde nossas primeiras gravações experimentais em fitas K-7 e gravações em estúdio por fitas de rolo para rádios e nosso álbum de estreia (Princípio Ativo, 2001), é que sempre gravamos com metrônomo. Esse é um lado metódico forte. Não posso deixar de comentar também o trabalho exaustivo de revisão e auto crítica realizado nas letras das canções. Como diz Paulo Coqueiro, co-fundador e ex-vocalista, “uma carpintaria de palavras” até esgotar todas as possibilidades para expressar a mensagem. Damos bastante importância às letras porque para nós seu estilo de expressão é um ingrediente fundamental e determinante para a identidade musical da Organoclorados.
– A arte da capa é simplesmente do caralho! Como vocês chegaram até o conceito dela e o que ela representa para o material como um todo?
Opa, obrigado! Que massa saber dessa reação! Garanto que a galera banda também vai ficar muito agradecida e feliz. Pessoalmente acho que ficou diferenciada e o resultado me agradou demais porque além da evidente beleza estética, tem uma forte coerência em termos de simbologia e significado. Você tocou num ponto fundamental: o poder de representação do conceito da obra que a arte da capa possui. Há tempos a gente tem uma premissa básica de que a arte gráfica (no caso, a capa do álbum) deve ser um elemento essencial para conceito da obra e seu conteúdo, sempre pensando também no fator estético. Sabemos que por ser a primeira impressão visual, uma capa de single, EP ou álbum funciona como ferramenta de divulgação, ainda mais nesses tempos em que chamar a atenção se tornou cada vez mais almejado. Afinal, a capa é o primeiro contato visual do ouvinte, sendo decisiva para despertar a curiosidade e levá-lo a explorar a obra musical. Todavia, temos vontade de ir além e vimos evoluindo nessa direção desde o primeiro álbum e nesse processo aprendendo a nos adaptar às mudanças na indústria e no mercado musical. Não sei se isso é algo “à moda antiga”, mas nós pensamos muito em como alinhar a imagem à identidade da banda, transmitindo nosso estilo e personalidade e o conteúdo da obra, de modo que possa cativar, criar de forma instantânea uma conexão com o público. Em Dreams and Falls, a capa não somente conseguiu simbolizar a música, mas se tornou também uma expressão artística que consegue enriquecer a experiência do ouvinte, quem sabe até dialogando com o inconsciente e sua bagagem cultural. O panteão de estilo neoclássico de August Urrutia i Roldán (1875-1928), localizado no Cemitério de Montjuic, em Barcelona, Espanha, apresenta em destaque na sua parte central a figura de um anjo desolado que suporta um sarcófago profusamente decorado. A autoria da escultura do anjo é atribuída a Josep Campeny i Santamaria (1858-1922). Essa imagem estava em arquivos guardados há alguns anos no computador e apenas passando por uma edição simples encaixou como uma luva no conceito sonho versus colapso do álbum. A aprovação da ideia pelos integrantes da banda foi unânime e imediata. Entendemos que a captura de um momento de queda e abatimento, tanto físico quanto emocional, com um toque de mistério que sugere uma possível resiliência provoca a reflexão subjetiva. Tivemos muita sorte nesse processo, realmente. Um detalhe curioso é que na reta final antes do lançamento, a arte da capa surgiu e dominou tanto o conceito, até mesmo para nós autores e responsáveis pelo conteúdo da obra, que poucas semanas antes do lançamento o título do álbum teve de ser alterado. Dessa vez, aconteceu de modo inverso do que fazíamos antes e a arte da capa foi decisiva para a escolha do título do álbum.
– Estou ávido por mais material vindo de vocês! Existem planos para um novo lançamento ainda neste ano?
Grande estímulo! Espero que possamos corresponder e que o público compartilhe da sua expectativa. Realmente, somos inquietos e sempre estamos às voltas com vários planos. Nesse ponto, a atividade está bem intensa e na maior parte circula em torno do principal objetivo que é promover o Dreams and Falls, através de shows e participações em eventos, veiculação em rádios e webradios, entrevistas, entradas em playlists de plataformas digitais e outras ferramentas. Temos lançamentos recentes como o videoclipe e um “lyrics vídeo” da música Days and Roses em nosso canal no YouTube e o single Horses on the Streets. E o trabalho segue… realizamos as filmagens para outro videoclipe no qual estou me dedicando à edição final, conforme as ideias e sugestões de todos da banda. O plano é soltar no YouTube em outubro ou novembro. Em resumo, a curto prazo o foco principal das ações é ampliar ao máximo o alcance nacional e internacional das músicas do álbum, por diversos meios. Posso adiantar ainda que o álbum em meio físico (formato CD) está pronto e, pelo que vi durante a diagramação e considerando o histórico de qualidade da empresa encarregada da fabricação, tem tudo para ser uma peça artística diferenciada, com encarte de letras e cuidadosa nos detalhes informativos. Junto com nossa parceira MS Metal Agency queremos traçar novas estratégias que considerem essa novidade e agregar outras atividades e planos. Não esquecemos de modo algum a incrível marca que o aniversário de 40 anos da banda significa, o qual pretendemos comemorar com um evento para encerrar o ano com chave de ouro. Pensado a médio e longo prazo, outros trabalhos que vêm sendo desenvolvidos desde o ano passado chegaram a um estágio final em agosto passado. São as produções de um EP com músicas em espanhol e um novo álbum em português. Depois de acompanhar os últimos ajustes na masterização e pós-produção, agora estamos nas últimas audições internas e ainda é cedo para um cronograma ou planejamento mais detalhado dos lançamentos. Em nome da banda, o que posso confirmar é que vem muita coisa no mínimo interessante num futuro próximo.
– Presumo que a banda também queira buscar o mercado internacional! Já existem planos e estratégias para chegarem lá?
Gostaria de destacar que o álbum Dreams and Falls é, antes de tudo, consequência de uma trajetória modesta, porém consistente e bem significativa para nosso segmento, que começou em 2019 quando o álbum Quântico (2018) chamou a atenção de uma revista digital de Los
Angeles, Estados Unidos, especializada em música independente dos gêneros rock, jazz e blues. Eles nos pediram mais informações e publicaram uma resenha sobre o álbum. Nos meses seguintes, algumas músicas tocaram em rádios independentes, sobretudo universitárias, daquele país. Pouco antes da pandemia, alguns contatos através de grupos no Facebook pediram músicas para programas de webradio veiculados no Brasil, Chile e Colômbia. Durante a pandemia, isso se ampliou para Argentina, México e chegamos a praticamente toda a América Latina. Depois, Espanha, Canadá e alguns países da Europa. Vieram então dezenas de entrevistas publicadas, por rádio ou vídeo (algumas ao vivo), além de festivais on-line, shows transmitidos ao vivo para vários países, resenhas publicadas em sites, blogs. Músicas em playlists internacionais etc. Frequentemente nos perguntavam se tínhamos material em inglês. Num momento posterior, na perspectiva do mercado internacional, essa produção passou a ser também um instrumento para avançar ainda mais nesse espaço. Os singles lançados previamente testaram a aceitação e serviram de termômetro. Eles foram bem recebidos, com resenhas, matérias e notícias em blogs e sites dos Estados Unidos, Inglaterra, Argentina, México, Espanha, Itália e Grécia. Atualmente, estamos em várias playlists internacionais, com diversas músicas e semanalmente nosso som toca em dezenas de rádios e webradios do Brasil e do exterior, basta verificar em nosso perfil de artista do Spotify ou acompanhar as publicações em nossas redes sociais. Agora, com a chegada do álbum em meio físico, este provavelmente será incorporado às estratégias e nisso contaremos com o apoio especializado do pessoal da MS Metal Agency.
– Ainda temos bastante tempo até fechar o ano, então, o que os fãs podem esperar como novidades vindas do grupo?
Como de hábito, muito trabalho e algumas produções. A banda é inquieta, sabe, não para de pensar em coisas novas, desafios, conversar sobre ideias e planos. E quando lançamos uma produção, logo depois já estamos pensando ou até planejando o que virá nos próximos meses e mesmo anos. Eu noto que por causa da pandemia houve um certo represamento, um freio no ritmo de produção, lançamentos e novidades ao público. Ao invés de ficarmos desanimados, hibernando, dispersos, buscamos alternativas como ensaios on-line, conversas quase diárias por mensagem, chamadas de áudio ou vídeo, e cada um praticando e criando individualmente com seus instrumentos. Em paralelo, desenvolvemos junto com o estúdio em que já tínhamos iniciado a gravação de singles um protocolo especial e disciplinado que permitiu a continuação, ainda que de forma mais devagar, das gravações que depois resultaram nos álbuns Efeito Residual (2020-2021) e Saudade da Razão (2022). Até mesmo um videoclipe conseguimos produzir! Ao fim e ao cabo, a produção não parou. Conto rapidamente essa história para demonstrar como o grupo mantém a chama acesa. Especificamente para este ano, posso assegurar que virão algumas produções para promover o Dreams and Falls: clipes, lyrics vídeos, talvez mais um single e o item que mais estamos ansiosos que é a chegada do álbum no formato físico compact disc (CD). Além disso, mais alguns shows, um evento especial que estamos preparando para comemorar o aniversário de 40 anos da banda e novidades no merch oficial da banda. Bom, isso é o que eu posso revelar até agora, mas pode haver alguma surpresa.
– Agora é com você, meu amigo! Aqui é o espaço das considerações finais…
Muito feliz por estar aqui. Em nome da Organoclorados, agradeço pelo interesse e pela oportunidade de aproveitar esse espaço concedido por Arena Heavy para nos aproximar ainda mais do público em geral. A Organoclorados faz música com paixão, sinceridade e temos um
forte compromisso com a qualidade daquilo que criamos para oferecer ao público. A todas e todos que acompanharam a entrevista, sigam nossos perfis e páginas nas mídias sociais e plataformas digitais, escutem nossas músicas inscrevam-se em nosso canal no YouYube. Força sempre e boas vibrações direto da Bahia
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