Amen Corner: Mantendo a tradição com “Written by the Devil”; confira entrevista
Postado em 09/08/2025


Pioneiros do Black Metal brasileiro, o Amen Corner segue firme na trilha obscura que constrói desde 1992. Formado em Curitiba, o grupo consolidou seu nome com álbuns como “Fall, Ascension, Domination” (1993) e “Jachol Ve Tehilá” (1995). Mais de três décadas depois de sua formação, a banda continua fortalecendo seu legado com o excelente “Written by the Devil”, lançado no Brasil pela Metal Army Records e na Europa pela Hammerheart Records. Gravado no Beco Estúdio, com produção de Ivan Pellicciotti, o trabalho traz uma sonoridade analógica que remete aos primórdios do gênero, sem abrir mão da essência que fez do Amen Corner uma referência no underground extremo brasileiro. Conversamos com o vocalista Sucoth Benoth sobre o álbum e muito mais. Confira!

“Written by the Devil” apresenta uma coesão interessante entre música, letras e identidade visual. Que tipo de visão artística orientou o conceito do álbum desde suas fases iniciais até a finalização?

Sucoth Benoth: Nós sempre gostamos de trabalhar com artistas que desenham de fato as nossas ideias. Não curtimos fazer nossas capas por IA ou por montagens de imagens, preferimos o papel e o velho pincel. Nós sempre valorizamos a capa com a nossa ideia do contesto da história das letras. Foi assim desde o início da banda.

A capa do disco, baseada em um sonho do guitarrista Murmúrio e desenvolvida por Marcos Miller, carrega uma atmosfera repleta de simbolismos. Como esse processo criativo se deu para a criação da capa e ele de alguma forma inspirou outros elementos do disco?

Sucoth Benoth: Como você disse, foi um sonho, uma espécie de visão e sim a ideia ajudou na elaboração do título e também de algumas letras pois na verdade a maioria das letras já estavam prontas, as coisas foram se encaixando. E o Marcos Miller entendeu bem a ideia e conseguiu transferir isso na capa do disco.

Ao longo dos anos, o Amen Corner construiu uma assinatura sonora única, seja no instrumental, seja nos vocais. Em que medida essas características foram intensificadas neste novo trabalho?

Sucoth Benoth: Nós sempre procuramos deixar nossas músicas novas bem pesadas e com bastante feeling e também o mais analógico possível, nós já temos a forma de compor que segue os passos antigos da banda nós nunca tentamos ou nos arriscamos a pegar outro caminho que não seja o que está sendo trilhado há mais de trinta anos.

Mesmo diante das constantes mudanças no Black Metal e da entrada de novas tendências sonoras, a banda segue fiel a uma estética mais clássica. Como vocês encaram essa permanência diante das transformações do cenário extremo?

Sucoth Benoth: A gente vê que muitas bandas vão mudando a sua sonoridade ao longo dos anos e isso é válido. Cada um faz o que quer, mas no nosso caso a gente não precisa inventar ou explorar novos caminhos. Até porque nossa música funciona bem e nós gostamos do que fazemos não é algo para apenas agradar ao público ou a tendências de época em época, não, nós fazemos realmente o que sempre nos agradou e de fato nós curtimos nossas músicas.

Com mais de três décadas de trajetória, o Amen Corner atravessou diferentes gerações do underground brasileiro. O que vocês consideram essencial preservar na essência da banda, e o que estão abertos a transformar?

Sucoth Benoth: Nós não temos essa pretensão de mudar algo na nossa música deixando claro é óbvio que nós também evoluímos ao longo de décadas gravando e tocando. Você percebe no disco novo que todos os membros da banda evoluíram musicalmente, mas sem perder a essência de nossa música.

As temáticas presentes nas letras têm sido constantes na discografia de vocês. Como esses elementos simbólicos e filosóficos evoluíram ao longo do tempo dentro da obra do Amen Corner?

Sucoth Benoth: Assim como musicalmente a banda evolui as letras também vão evoluindo, gosto de explorar vários temas, é uma infinidade de assuntos a serem explorados.

A faixa “Lúcifer, a Suprema Luz da Manhã”, que traz letra de Baal Seth Penitent, destaca-se pelo formato narrativo e pela atmosfera extremamente sombria. Como surgiu essa colaboração e o que ela representa dentro do contexto do álbum?

Sucoth Benoth: Foi uma ideia que eu tive de fazer uma espécie de oração de poesia, uma dedicatória ao Arcanjo Lúcifer. O meu amigo Baal Seth Penitent da banda Torches of Nero escreveu a letra e fizemos essa parceria. Ficou muito legal. No início eu iria falar em inglês, mas em português ficou com uma atmosfera bem melhor.

A produção do álbum opta por uma sonoridade orgânica, com aspereza e timbres que remetem ao início dos anos 90. Em meio a tantos lançamentos “sem alma”, ou com uma produção “plástica”, o que temos em mãos é uma joia rara… Como foi trabalhar desta forma?

Sucoth Benoth: Nós mudamos de estúdio de gravação e dessa vez gravamos com o Ivan Pellicciotti do Beco estúdio aqui de Curitiba e ele também é baixista da banda Vulcano e ele conseguiu deixar nossas músicas com bastante peso e bem analógico e ele é um grande produtor musical. Ele entendeu a nossa proposta e o resultado final ficou muito foda! Esse é o nosso melhor disco que já foi produzido ao longo de nossa carreira musical.

Tanto o baixo quanto a bateria têm momentos de destaque em “Written by the Devil”, com timbres definidos e presença marcante. Como foi o processo de gravação e entrosamento entre Fernando Grommtt e Tenebrae Aarseth nesse álbum? E no geral, quais suas faixas favoritas?

Sucoth Benoth: A junção do baixo com a bateria casou perfeitamente, o Fernando é um baixista muito bom e criativo e a Tenebrae Aarseth vem evoluindo e tocando muito bem, a cozinha está pesada, coesa e muito firme nas músicas novas. Eu gosto muito da “The War of the Antichrist”, “Signal from Beyond”, “The Protectors” e “Fall and Ascension”, mas todas elas estão muito bacanas.

Sua performance vocal nesse disco está especialmente marcante, com um tom teatral que remete a uma verdadeira liturgia negra. Como você enxerga sua própria evolução como intérprete e a construção dessa persona ao longo dos anos?

Sucoth Benoth: A evolução da minha voz eu acredito em uma parte deve-se ao entrosamento que tenho com o guitarrista o Murmúrio, pois a gente vem trabalhando juntos a muitos anos, praticamente desde o início.

O lançamento simultâneo por selos no Brasil e na Europa em CD e LP abre portas para públicos distintos. Como tem sido a recepção internacional da obra e qual a importância de firmar essas conexões fora do país?

Sucoth Benoth: Essas parcerias entre a banda a Metal Army Records e a Hammerheart Records tem sido fundamental para que a banda seja muito mais conhecida no mundo inteiro e pela primeira vez nosso disco está sendo espalhado pelo mundo todo. Temos recebido muitas críticas positivas, entrevistas para Zines e revistas e o “Written by the Devil” tem recebido boas pontuações. Estamos muito felizes com isso tudo e foi graças a Metal Army que investiu pesado no Amen Corner.

Mesmo sendo uma das bandas mais antigas e respeitadas da cena black metal brasileira, o Amen Corner mantém uma produção artística viva e inquieta. O quanto o passado pesa, ou inspira, nas decisões criativas atuais do grupo?

Sucoth Benoth: O passado é também o nosso presente faz parte da gente, acredito que o Amen Corner hoje é uma banda bem sólida pois construiu um passado glorioso e muito forte do contrário acho que nosso presente não seria tão forte e respeitado como é. E olha que a banda sofreu mudanças de formação pra caramba durante essas décadas, mas hoje ainda bem que estamos com a formação estável em praticamente dois álbuns já. Isso é muito importante, não ficar mudando de membros toda hora.

Quais são os planos do Amen Corner a partir de agora? Podemos esperar turnês dentro e fora do Brasil para promover “Written by the Devil” ou mais lançamentos em breve?

Sucoth Benoth: Nossos planos no momento é tocar, promover o disco novo e também temos vontade é planos de tocar fora do Brasil. Depois disso aí sim vamos começar a compor músicas novas.

Sucoth, obrigado pela entrevista! Quais suas considerações finais?

Sucoth Benoth: Quero agradecer a você meu amigo Maicon Leite pela entrevista e também a todos os nossos parceiros. Agradeço muito a Metal Army e a Hammerheart records pelo belíssimo lançamento. Obrigado a todos os nossos fiéis seguidores.

 
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